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“Encontros de Cura: Reinventando uma medicina indígena na clinica e além”

O objetivo do Encontros de Cura é o desenvolvimento de uma teoria que seja simétrica e etnograficamente pautada para pensar o que é e o que envolve a cura na perspectiva dos que oferecem, recebem ou avaliam a cura. Para isso, o projeto investiga as diversas reinvenções das práticas de cura que fazem uso da bebida amazônica que é mais comumente conhecida como “ayahuasca” (mas acolhe muitos outros nomes como Nixi pae, Oni, Daime, Yaje, Vegetal, Kapi…).

Através da observação participante, de entrevistas, da etnografia multisituada, de workshops colaborativos e do uso de métodos de pesquisa multi-escalar, a cura é investigada a partir de três contextos interligados: um neo-tradicional (Cura na Cidade), um biomédico (Cura no Laboratório) e um indígena (Cura na Floresta), nos quais a ayahuasca é usada em rituais cuidadosamente estruturados. Estas são práticas que estão entrelaçadas aos históricos encontros coloniais e neo-coloniais e são todas – sejam as indígenas ou as biomédicas – modernas, misturadas e reinventadas.

Os três encontros transversais que baseiam a análise comparativa são:

  1. Encontros Material-Semióticos: Mapear o entrelaçamento de efeitos biológicos e simbólicos nas práticas de cura;
  2. Encontros mais-que-humanos: Atenção para o tipo de cura gerada nas relações com seres mais-que-humanos, espíritos ou espécies companheiras se relacionando com humanos.
  3. Encontros Ontológicos: Reconhecer a existência de uma multiplicidade de ontologias dentro de um universo comum de encontros.

O projeto adota o conceito “encontro” como análise e como método. Parte da ideia de que ontologias (dos povos indígenas, especialistas em rituais urbanos, médicos, clínicos e participantes) são constituídas em relação a outros. Nossa análise vê como os diferentes projetos de de mundo redefinem-se uns aos outros, uma vez que compõem um mundo estratificado, mas compartilhado.

A investigação está pautada em teorias e métodos feministas e decoloniais e um dos compromissos chave do projeto é repensar o entrelaçamento das práticas de cuidados entre humanos e não-humanos. Assim, examinamos o que significa cura para além do molde individualista ocidental, considerando a maneira na qual a questão da cura é indissociável da questão do direito ao território, ao acesso à água e ao ar limpos, a ambientes livres de contaminação tóxica e à soberania alimentar.

Explorar a vastidão de significados da cura junto aos nossos colaboradores indígenas e não-indígenas da América do Sul nos leva a destacar questões de sustentabilidade, equidade e justiça social na nossa análise dos diferentes projetos ayahuasqueiros.

Como um time, nos preocupamos com os complexos e estratificados entrelaçamentos entre ayahuasca e colonialismo e observamos as formas como as táticas da colonização continuam a extrair plantas e conhecimentos das suas teias de relações multi-espécie. Refletindo sobre e contra o extrativismo chamamos atenção sobre os modos de produção e de circulação do conhecimento, nos atentando sobre o modo como a legitimidade é construída e negociada, assim como os entendimentos que são autorizados sobre ayahuasca, enquanto ela ganha visibilidade internacionalmente.

 

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